quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O ABC da comunicação corporativa (parte 1)


Há muitos dicionários corporativos disponíveis por aí. Em geral, bons e instrutivos. Quem quiser leitura séria, vai achar nas melhores livrarias do País. Mas eu também queria criar o meu pequeno dicionário para falar dos bastidores da comunicação. Afinal, o making of de um filme publicitário algumas vezes é mais interessante do que a propaganda em si. Por isso, sempre me preocupo em demonstrar o que acontece no dia a dia do nosso trabalho. É assim no blogda minha agência, nos temas dos artigos aqui publicados e nas conversas cotidianas com outros profissionais do setor. Para quem quer entender um pouco mais o nosso trabalho, vou listar alguns pontos importantes do abecedário da comunicação.

A
Abacaxi - Essa é a fruta que você precisa aprender a descascar quando atua em comunicação corporativa. O assessor de comunicação é um intermediário entre a empresa e seus vários públicos. E, como tal, é muito comum ser chamado para apagar incêndios, quando deveria estar envolvido em todo o processo desde o início. Mas não conte com isso. Os abacaxis surgem de todo o lado, a qualquer momento, indiscriminadamente. Quanto mais ferramentas você tiver disponível, menos trabalhoso e mais saboroso ele será.

B
Burocracia - Difícil lidar com essa palavra, mas tem horas em que não há jeito. Um pouco de planilha não faz mal a ninguém, embora seja definitivamente chata. Tem coisa mais cansativa do que fazer relatórios? São processos burocráticos, mas importantes para prestar contas das atividades. Da próxima vez em que elaborar seu relatório mensal, pense que o cliente terá em mãos um documento de análise de todo seu esforço. E os resultados compõem o nosso melhor cartão de visitas.

C
Cliente - Um sujeito que lhe contratou cheio de esperanças. Depositou em você todas as expectativas possíveis, como se agora os problemas de comunicação dele estivessem resolvidos. Alguns não entendem seus limites, até onde o assessor conseguirá chegar dentro da empresa e junto aos jornalistas também. Faça o possível, logo de cara, para explicar direitinho. Seja bastante claro desde o começo para evitar desencontros futuros.

D
Derrapada - Quem nunca cometeu deslize jogue a primeira pedra (não, caro leitor Ahmadinejad, você não vale). O melhor nesses casos é assumir o erro e, eticamente, achar uma maneira de consertar o problema. Nada que uma conversa franca e honesta entre as partes não resolva. Fundamental é o respeito mútuo. Por mais técnicas e conhecimentos que o assessor possua, ele não é um ser supremo. Aliás, se achar que é, fuja dele.

E
E-mail - Excelente instrumento de comunicação, mas nada ainda substitui o contato pessoal. Estamos nos tornando virtuais demais, amparados por uma máquina 24 horas por dia. Ouvir a voz do cliente no telefone, trocar ideias durante um almoço, falar da vida e dos rumos do País são essenciais para quem quer estabelecer uma relação duradoura.

F
Follow-Up - Uma ingrata missão que todo mundo odeia, mas que tem de fazer assim mesmo. Significa que não adianta mandar e-mail ao jornalista com uma sugestão de pauta muito legal e exclusiva. Ele vai deletar a mensagem sem ler, é quase certo. Então, o jeito é pegar o telefone e ligar mesmo. No entanto, alguns jornalistas atualmente nem telefone atendem mais na redação, cansados de receber ligação de tantos assessores. Se ele não lê e-mail e não atende telefone, melhor procurar outro veículo para oferecer a pauta. Sinal de fumaça a gente ainda não sabe fazer.

G
Gente - Nosso trabalho consiste, basicamente, em ouvir pessoas: funcionários, jornalistas, comunidade, formadores de opinião, entre tantos outros públicos (agora também chamados de stakeholders em todo o território nacional). Os gestores de comunicação precisam estabelecer diálogos. E para isso é fundamental, em primeiro lugar, aprender a ouvir.

H
Holofote - Acho que foi Heródoto Barbeiro quem escreveu num livro que holofote perto demais queima. Se não for textualmente isso, é quase. Quem já travou relacionamento profissional com alguns assessores de celebridades e de políticos sabe que, muitos, se acham mais importantes que o rei. Fazem exigências mil, dizem que o cliente não quer isso ou aquilo, travam uma guerra de nervos com os jornalistas. Depois, a celebridade chega e deixa todo mundo encantado. Topa tudo, nunca diz não, atende a todas as demandas com sorriso e bom humor. Das duas, uma: ou ele contratou um cão de guarda para fazer o trabalho sujo e ele posar como bonzinho ou o assessor subiu no salto alto.

I
Informação - Matéria-prima de nosso trabalho. Quem trabalha dentro da empresa ainda consegue mais sucesso para arrancar informações dos gestores. O fornecedor externo, no entanto, costuma sofrer um pouco mais. Pior mesmo é quando o cliente passa apenas "meia verdade" aos assessores, deixando escondido na gaveta a real versão dos fatos. A saída é sempre a confiança mútua.

J
Job - Serviço temporário que deve custar o dobro do preço de um trabalho fixo e permanente. Isso porque demanda um esforço enorme, muitas vezes com ampliação da equipe, para alcançar resultado em curto prazo. Duro é fazer o cliente entender isso e desembolsar uma verba mais polpuda.

K
Know how - Bastante comum os diversos gestores de uma empresa darem pitacos no nosso trabalho. Afinal, todo mundo "entende" de comunicação, sabe o que é bom para a empresa, acha que basta pegar o telefone e convocar a imprensa para anunciar sua nova campanha publicitária. Para se impor frente ao cliente é preciso demonstrar segurança e conhecimento profundo.




Texto de Lucia Faria, publicado em 17/09/2010 no Portal Imprensa

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