quinta-feira, 15 de julho de 2010

A burocracia das entrevistas por e-mail

Tem um assunto que há tempos quero abordar aqui, mas sei que gera polêmica. Tanto em relação aos assessores de comunicação quanto aos jornalistas. Mas acho bom levantar a poeira debaixo do tapete de vez em quando. A questão está relacionada às constantes solicitações de entrevistas por e-mail. Algumas vezes os jornalistas é que insistem, em outras é o próprio cliente e seus assessores.

Eu, particularmente, não gosto. Como assessora deveria adorar, pois ali o cliente dá a resposta que quer, do jeito que bem entende. Sem réplicas nem tréplicas. Mundo perfeito? Não, não acho. E aqui corro o risco de levar puxão de orelha de alguns clientes, que batalham muito pela adoção geral e irrestrita desse processo.

No começo, os jornalistas (e posso falar bem a respeito, pois já estive do lado de lá do balcão por quase 15 anos) iam para as ruas entrevistar, ouvir suas fontes, buscar a notícia. Depois, com o enxugamento das redações e com o caótico trânsito das grandes cidades, substituíram a entrevista in loco pelo telefone. Perdeu-se bastante com a falta do olho no olho, mas ainda assim era possível extrair além do pensamento oficial, captar os titubeios, entender as "meias-palavras".

Nas entrevistas por e-mail, prática agora bastante adotada, muitas vezes quem responde é o assessor de comunicação. É ele quem vai entrevistar o cliente, que redige o texto final e faz todos os filtros possíveis nas respostas. Tudo perfeito. Para quem?

Não acho esse processo salutar para nenhuma das partes. Uma imprensa preguiçosa só deseduca a sociedade. E agora que dei um tiro no pé, vou ter de responder àqueles jornalistas que vão rebater o texto com exemplos já ocorridos na minha empresa. Sim, já fomos obrigados também pelos clientes a pedir as perguntas previamente, a forçar respostas por e-mail e tudo o que combati nas linhas acima. Mas em nenhum momento eu disse que fazia diferente. Estamos no nosso papel. Cabe aos jornalistas das redações não aceitarem esse tipo de abordagem e não darem o primeiro passo.

Artigo de Lucia Faria, publicado em 16/07/2009, no Portal Imprensa

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